EMBATE

Movimentos repudiam audiência pública convocada por vereador de Betim

Encontro ocorrido na Câmara, a pedido do vereador Layon Silva, debateu o conteúdo do material didático do projeto Caminhos da Igualdade

Por Lisley Alvarenga

Publicado em 24 de junho de 2025 | 17:36

 
 
Movimentos afirmaram que não participaram da audiência por entenderem que ele foi “instrumentalizado como palco de discursos preconceituosos disfarçados de debate democrático” Movimentos afirmaram que não participaram da audiência por entenderem que ele foi “instrumentalizado como palco de discursos preconceituosos disfarçados de debate democrático” Foto: Nelson Batista

O Movimento Antirracista de Betim e a Associação dos Povos Tradicionais de Matrizes Africanas de Betim (Ascafeb) emitiram uma nota conjunta de repúdio à audiência pública convocada pelo vereador Layon Silva (PL), classificada pelos grupos como parte de uma "ofensiva reacionária contra a educação antirracista". 

O debate ocorreu entre a noite de segunda (23 de junho) e início da madrugada desta terça (24 de junho), na plenária da Câmara, e contou com a participação de vereadores, representantes do Executivo, do Conselho Municipal de Educação e ativistas da causa. Embora a audiência pública tenha durado mais de 6 horas, não houve nenhum encaminhamento oficial.

Segundo as entidades, a audiência estaria sendo usada como espaço para legitimar ataques às políticas educacionais que promovem diversidade, inclusão e justiça social. Em nota, os movimentos afirmaram que não participaram da audiência por entenderem que ele foi “instrumentalizado como palco de discursos preconceituosos disfarçados de debate democrático”.

A crítica central da nota de repúdio recai sobre o que os organizadores consideram uma tentativa de deslegitimar as Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas públicas e privadas. Para os movimentos, a convocação da audiência representou um ataque direto aos princípios constitucionais e às conquistas dos movimentos sociais.

“Essa retórica atenta contra a Constituição e coloca em risco conquistas históricas dos movimentos negro e indígena”, afirma o trecho da nota.

A Ascafeb e o Movimento Antirracista de Betim também denunciaram o que classificam como uso recorrente do mandato parlamentar de Layon Silva para promover uma “guerra religiosa” e tentativas de apagamento das identidades negras e indígenas que, segundo eles, são “bases da identidade nacional”.

As entidades finalizam a nota reafirmando o compromisso com a luta por uma educação plural e antirracista, destacando a importância de debater a diversidade étnico-racial nas escolas como caminho para o enfrentamento do racismo e o fortalecimento da democracia.

“Seguiremos mobilizados em defesa dos direitos das juventudes negras, indígenas e periféricas, das educadoras e educadores comprometidos com uma educação plural”, concluiu o manifesto.

Líder do Movimento Antirracista e membro da diretoria da Ascafeb, Ramon Nabor agradeceu o prefeito de Betim, Heron Guimarães, por lançar o projeto 'Caminhos para Igualdade', que trata sobre o material didático que será entregue aos alunos das escolas municipais. "É uma atitude corajosa de quem governa para todos. Esse projeto ajuda a combater o racismo desde a infância, com educação e valorização da diversidade. Ninguém nasce racista, nos tornamos. E é na escola que começamos a mudar essa história", defendeu.

Já para Pablo Henrique Machado Coleta, presidente da Associação dos Povos Tradicionais de Religiões Afro brasileira e Africanas de Betim, tanto a Ascafeb, quanto o Movimento Antirracista, decidiram não participar da audiência pública proposta pelo vereador Layon Silva, devido ao que chamaram de "tentativa de usar o debate sobre liberdade religiosa para criar polarização ideológica com fins políticos". E disseram ainda: "Repudiamos discursos de ódio, mas destacamos a postura respeitosa de alguns participantes. Condenamos, entretanto, a presença de figuras externas que tentaram impor visões incompatíveis com a pluralidade religiosa e cultural local, inclusive figura extera, cuja defesa da laicidade contradiz seu apoio à aprovação da Bíblia Cristã nas escolas de municipios vizinhos, evidenciando uma laicidade seletiva. Estamos acompanhando as ações dos vereadores e contamos com apoio jurídico e político para defender a laicidade do Estado e o respeito às religiões de matriz africana", afirmou.

O Tempo Betim encontrou em contato com o vereador Layon Silva, mas até o fechamento desta matéria ele não retornou a reportagem.