OPINIÃO

Autêntico

A decisão pela autenticidade faz de um homem um ser especialmente abençoado e dá uma liberdade a ele que nenhum animal pode alcançar

Por Vittorio Medioli
Publicado em 16 de fevereiro de 2025 | 11:37
 
 
Somente o ser humano pode escolher por ser autêntico ou não

A raça humana possui incontáveis expressões únicas, resultantes de encontros genéticos igualmente incontáveis. Os seres, mesmo nascendo da mesma mãe e por intervenção de um só e único pai, não podem ser iguais, se diferenciam entre si. Podem ser muito parecidos, mas não idênticos.

À luz da crença na reencarnação, defendida pelas religiões orientais, na composição do indivíduo se encontram bilhões de ocorrências que deixaram consequências únicas e pessoais em bilhões de anos.

Cada qual dos eventos tem o poder de gerar marcas e consequências indeléveis na formação do caráter. Não existe o acaso, tudo é decorrente de causas, qualquer pinta na pele, qualquer pelo no corpo tem sua razão de ser, seu sentido único. O estudo da íris do olho, como o das digitais, comprova a unicidade irreproduzível de cada ser humano.

No decorrer da existência se encontram dezenas de milhares de seres existentes no planeta, que podemos agrupar em três categorias. Os numerosos são de índole animalesca, incultos, movidos por tendência de sobrevivência e conduzidos por instintos mais do que pela razão.

Em ponta oposta encontramos os raros santos, seres que transcenderam os instintos, não por repudiá-los, mas por terem encontrado algo mais poderoso e muito melhor, além dos próprios limites comuns: o amor para tudo e todos. É a culminância, como um Buda, um Cristo, um Krishna são expressão de amor incondicional.

Entre essas duas categorias se concentra o resto, a maioria dos humanos, definidos como homens e mulheres comuns. 

Os extremos têm características parecidas de autenticidade. O animal é autêntico não por escolha, apenas porque não possui alternativa; não sabe nem pode compreender o que é “mentir”. Um animal, um cão nunca poderá mentir, pois em sua esfera de expressões a falsidade é desconhecida e impraticável. Ele não tem consciência que o habilite à escolha, ele será sempre a expressão da realidade em que vive. Já o homem comum será autêntico se se decidir pela escolha da verdade.

Podemos classificar os indivíduos como agradáveis ou desagradáveis. Por variadas razões, os autênticos são os mais atraentes, seja lá o que for. Conseguem transmitir confiança, segurança, atração, são especialmente previsíveis, têm aspecto exterior mais atraente e, ainda, permitem uma reciprocidade consciente na relação.

Tem alguém que goste de um dissimulado e mentiroso?
A autenticidade é sinônimo de verdade. O caminho mais breve para se relacionar com proveito. O compromisso com a verdade é o pano de fundo das boas realizações. Esta é a condição básica de qualquer construção, da união de propósitos e ações.

Repare-se que um cão não pode ser falso, tem que ser verdadeiro – não porque tenha escolhido ser verdadeiro, e sim porque ele não conhece outra opção. Assim como uma criança em seus primeiros anos de vida.

O homem pode escolher. Se for verdadeiro, é excelente, pois sua origem animal e sua última aspiração de santidade se expressam com a verdade irrestrita. O grande Mestre disse: “A não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus”.

O homem comum está constantemente em dificuldade, vive com ansiedade. Escolher sempre é difícil, e a mente quer escolher algo que seja fácil de fazer, que oponha menos resistência. Mentir é fácil, criar uma fachada é fácil, criar uma realidade é difícil. De modo que muitos homens escolhem o fácil, o que se pode fazer sem nenhum esforço e sacrifício. Entretanto, o engano é uma ilusão, cobrará a conta.

A decisão pela autenticidade faz de um homem um ser especialmente abençoado e dá uma liberdade a ele que nenhum animal pode alcançar e nenhum homem falso pode obter.