OPINIÃO

Ideologias obscurecem as virtudes

Ser de esquerda ou de direita não tira a obrigação de ser honesto e justo

Por Vittorio Medioli
Publicado em 25 de agosto de 2024 | 14:04
 
 
Imagem ilustrativa

Ser de esquerda ou de direita não tira a obrigação de ser honesto e justo. A honestidade e a justiça não têm coloração, são impessoais, únicas e eternas. O honesto de 5.000 anos atrás devolveria as moedas encontradas no chão a seu legítimo proprietário, como faria o honesto de hoje.  

Os Dez Mandamentos não sofreram alterações desde que Moisés desceu do monte Sinai e encontrou seu povo adorando o bezerro de ouro. 

O que evoluiu foi a conceituação, em contínua expansão entre as pessoas que adquirem mais consciência das regras que regem nosso universo e a convivência social em harmonia. 

Bem por isso é que a forma de fazer política com embates que dividem grande parte da nação é absolutamente estéril, fútil pretexto para obscurecer a realidade que dói e envergonha: a falta de virtudes, ou seja, a falta de poder mostrar esses atributos sem enrubescer.  

Cheguei pessoalmente a entender que os que falam muito de um lado esquerdo ou de seu oposto não gostam de abordar os aspectos – embaraços para eles – da honestidade. Nisso, independentemente do fanatismo professado, geram uma semelhança impressionante. Temos governantes que nunca usaram na vida e em seus milhares de aparições públicas o vocábulo tão singelo: “honestidade”. 

Como o diabo não consegue pronunciar a palavra “Deus”, o ladrão, mesmo o mais dissimulado, tem enorme dificuldade de citar “honestidade” ou se lembrar dessa palavra. Essa virtude, pura, simples e respeitada, consegue fazer até milagres numa administração, tanto pública como privada, quando associada ao saber e à competência.  

Honestidade é um compromisso irrenunciável com a verdade para gerar ordem e respeito, enquanto a desonestidade e a mentira levam diretamente ao caos. Quem pode se entender no meio de gente que trai ou mente? 

São condições irrenunciáveis, neste ou em outro planeta, para construir e ter sucesso, proporcionalmente à firme vontade de esforço empregada para suportar os entraves, sempre à espreita. 

É verdade que grandes ladrões tiveram aceitação popular e enganaram por um bom tempo grande parcela de governados não preparados para enfrentar as insídias da demagogia. É verdade, também, que “pão e circo” aquietaram os humores da plebe e deram sossego aos poderosos para explorar em proveito próprio os bens públicos, mas, se analisarmos em profundidade, encontraremos que as farsas não foram a prática de grandes estadistas. Estes, amados e respeitados até hoje – os heróis –, são lembrados não por ideologias (notem bem), mas pelas virtudes que demonstraram e pela filosofia (amor à sabedoria) que adotaram. Pela forma impessoal, desabrida, incansável de priorizar as necessidades da população, especialmente ao eliminarem a crueldade e o sofrimento por meio do poder e dos instrumentos de que dispunham. 

Vai demorar, mas um dia teremos, no lugar de comentaristas “comprados”, “máquinas da verdade” para analisar os pronunciamentos dos candidatos, e isso será a extinção das fórmulas enganosas e frustrantes de fazer política, e os governos serão infinitamente mais simples e melhores.