OPINIÃO

Renovação inadiável

O Brasil não é já 100% “green” por falta de interesse, ou, pior, por interesses contrários à necessidade da humanidade

Por Vittorio Medioli
Publicado em 28 de julho de 2024 | 15:12
 
 
Humanidade segue atrasada e defasada em relação à tomada de atitudes que possam diminuir o efeito estufa

Nesta semana, registraram-se as mais altas temperaturas médias do planeta Terra.

Surgem graves impactos na saúde humana, no esgotamento das fontes hídricas, no degelo dos polos e das geleiras do Himalaia e dos Andes, na consequente elevação do nível dos mares, na ampliação das áreas de deserto, na diminuição das colheitas e muito mais.

Além desses males imediatos, apresenta-se um horizonte mais tórrido e desafiador. A humanidade está fortemente atrasada e defasada em relação à tomada de atitudes que possam diminuir o efeito estufa. Apesar dos enormes investimentos em energias renováveis, o consumo de petróleo vem crescendo a cada ano e mais ainda deverá aumentar nos próximos, pela entrada de bilhões de seres humanos na economia consumista nos países asiáticos. 

No Brasil se badala que o país é o mais “green” do planeta e onde as energias renováveis atingem metas que nenhuma outra nação sonha em atingir em menos de 20 anos. Verdade: quase 50% da energia consumida no Brasil é fornecida por hidroelétricas, biomassas, fotovoltaicas e eólicas. Entretanto, o potencial de descarbonização do país é muito mais amplo do que em qualquer outro quadrante da Terra e tem condições mais rápidas de ser implementado.

Essa consciência tangencia os governantes brasileiros. A ficha, como se diz popularmente, não caiu em relação ao assunto mais importante deste momento e das próximas décadas, e ainda se perde tempo com uma política de quarta categoria e um populismo barato e odioso que a nada leva.

O aquecimento do planeta, não há dúvida, se relaciona com as emissões de CO₂ e poderia ser bem menor, com menos carvão fóssil e petróleo sendo queimados. O Brasil não é já 100% “green” por falta de interesse, ou, pior, por interesses contrários à necessidade da humanidade.

Nosso presidente, nesta semana, em descompasso com o potencial de energias “deitadas e roncando” em berço esplêndido, usou da tribuna do G20 para propor a taxação dos mais ricos, tese que aparentemente vai dar a ele o papel de benfeitor da humanidade e dos pobres. O Brasil, num momento em que poderia ser, para o resto do planeta, um exemplo de salvação, depende apenas de uma aceleração do imenso potencial à sua disposição.

Infelizmente, isso está atolado na burocracia tacanha, ou, pior, sujeito a propinas para poder andar. O que deveria ser incentivado, fomentado, aplaudido enfrenta a ignorância e pequenez do sistema brasileiro.

A que serve cobrar mais impostos dos ricos sem baixar os dos pobres? Conceder mais recursos retidos e desviados por governos fracos e desmoralizados.

Por que não utilizar esses recursos nas mãos de “quem sabe fazer” para aderir a planos grandiosos de salvação do planeta, castigado pelas mudanças climáticas? 

Temos milhões de hectares de pastos degradados para aproveitar, e a implantação de florestas é a forma mais segura, garantida e natural de sequestrar e fixar carbono e dar-lhe uma finalidade nobre, renovável. Apenas o Brasil dispõe dessas extensões continentais de alto sequestro, pois um hectare de floresta plantada no Brasil representa um sequestro até sete vezes superior aos do Canadá e da Sibéria.

O Brasil tem a capacidade, até 2030, de substituir todo o petróleo consumido internamente por biocombustíveis. Cresce vertiginosamente a produção de etanol de milho, combustível que mais se presta a substituir o querosene de aviação pelo planeta afora. A Petrobras pode continuar a exportar para os mercados internacionais enquanto o petróleo continuar a ser consumido. Imaginem um país com essas condições oferecer-se ao planeta. Um gesto incalculável, grandioso.

O que falta é consciência e disposição para o bem dos outros e do mundo, e é isso que faz perder de vista até as coisas mais simples. Podemos fazer? Deixamos de fazer? Será cobrado. Quem tem tempo, não perca tempo!

E mais, na enorme renovação planetária, não podemos deixar de incluir as forças políticas e aquelas que governam.