Sabe aquela minha amiga que morou na Nova Zelândia, se casou com um neozelandês, e agora, aposentados, chutaram o balde e foram viver em Trancoso? Pois é, saíram de um paraíso e desembarcaram em outro. Um, de primeiríssimo mundo, outro, simples e singular, coisa de outro mundo!
Nos falamos constantemente. Como passo grande parte do tempo no trânsito, ligo pra ela no viva-voz, e colocamos as notícias em dia. Até a roupa com que pretendemos ir a uma festa vira assunto.
No WhatsApp também compartilhamos de tudo: fotos da família, as brincadeiras dos cachorros, doces que não deveríamos comer, mas comemos, o novo corte de cabelo, a capa de um bom livro que acabamos de ler, piadas, receitas, absurdos encontrados nas redes sociais etc., etc.
Hoje ela me enviou uma foto de seu jardim trancosense.
– Nossa! Que flores lindas são essas? – pergunto.
E ela, além de enviar mais flores, responde:
– Do meu jardim, ué! Como estão as flores aí do seu?
– Menina, eu não estou tendo nem grama direito, imagina flores?
Aqui está tudo esturricado. Nas poucas vezes que chove, vem granizo ou tormenta. É como se fossem milhares de baldes de água despencando do céu, fazendo um estrago danado. Ruas alagadas, bueiros entupidos, carros boiando, um caos!
E, por falar em caos, o marido da minha amiga, que nem entende português direito, fica horrorizado com os noticiários da TV brasileira.
– Darling! Mas só tem desgraça nesses jornais? Quando não é crime, é corrupção! – Aliás, essa foi uma das primeiras palavras que ele aprendeu, acho que de tanto ouvir falar.
Semana passada, ela me zapeou apavorada após ler a notícia de que o tal óleo de origem venezuelana, que escapuliu ou deixaram escapulir de um navio, se aproximava das bandas de lá. Lá, onde a nossa Pátria Amada Brasil foi descoberta.
Segundo a matéria, a próxima parada seria Porto Seguro. Daí a Arraial D’Ajuda e Trancoso seria um passo, ou melhor, algumas ondas e uma corrente marítima.
Dias depois ela me zapeou de novo, para me mostrar o seu pé.
– Lauriiiinha! Olha isso!
Olhei e não entendi muito bem.
– Laurinha, põe seus óculos e veja bem. Tem petróleo no meu pé! O óleo chegou aqui também!
Sei que os pescadores estão desolados, pois ninguém mais na região quer comer peixe “petrolado”, mesmo que um secretário tenha dito que peixe é bicho esperto e foge das manchas do mal. Então, tá.
Na dúvida, vamos todos comer pizza!!! Aliás, outro dia eu mandei para ela a foto da “pizza” que eu fiz.
– Amiga! É rapidinho, pega um pão sírio dos grandes e põe na frigideira, joga queijo e tomate em cima, e pronto! A pizza está pronta!
– Ô Laurinha, você está falando sério ou essa sua “pizza” é preguiça de final de semana?
Concordei com ela, era a legítima pizza da preguiça que, juntamente a um suco de uva integral, numa taça de vinho, cumpria o seu papel de ceia dominical. Tudo fake!
E ela, de maldade, me manda a foto de uma calabresa, encomendada na pizzaria próximo à sua casa, acompanhada por uma taça de vinho tinto neozelandês. Nada fake!
Depois do jantar, nós, com nossos respectivos “darlings”, em nossas respectivas poltronas, vamos pra frente da TV. Ligadas na Netflix, assistimos a documentários interessantes, bons filmes e ótimos seriados.
Afinal, domingo é dia de descanso, nada de tragédias entrando em nossos lares. Nada de crimes e corrupção, embora do lado de fora eles continuem na ativa, desgraçando a vida de todos.