As vítimas de um golpe milionário que teria sido aplicado pelo gerente de uma agência do Santander em Betim vivem a expectativa de conseguirem algum progresso na resolução do prejuízo que sofreram. A partir do próximo mês, audiências de conciliação serão realizadas entre os clientes lesados e representantes da instituição financeira para que as partes tentem firmar um acordo. As audiências ocorrerão no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Sejusc), instalado no fórum do município, conforme consta no sistema de consulta pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Paralelemente aos trâmites judiciais, as investigações são conduzidas pela Polícia Civil. Nesta semana, algumas vítimas foram intimadas a prestar depoimento.
O caso, que vem sendo acompanhado pelo O TEMPO Betim, está ligado à Operação Descrédito - deflagrada pela Polícia Civil em 22 de maio -, que investiga um golpe que teria causado um prejuízo de mais de R$ 20 milhões a pessoas físicas e jurídicas em Minas Gerais. Na ocasião, foram cumpridos 15 mandados de prisão e 20 de busca e apreensão em Betim, Belo Horizonte e no interior do estado. Entre os presos estavam quatro gerentes e dois ex-gerentes de bancos, suspeitos de repassar dados sigilosos de clientes a uma quadrilha especializada em estelionato, falsificação de documentos, lavagem de dinheiro e uso indevido de identidade.
Segundo a advogada Fábia Parreiras, que representa algumas das vítimas, trata-se de um padrão de fraude que já motivou diversas ações no Judiciário. "O esquema ocorria dentro das próprias agências bancárias, com uso do nome e da estrutura da instituição, o que levava os clientes a acreditarem nas propostas por confiarem no banco. As práticas incluíam supostos investimentos de alta rentabilidade, venda de moeda estrangeira por valores abaixo do mercado, falsificação de extratos bancários e contratação de empréstimos sem autorização", explica Fábia.
A advogada ressalta que, de acordo com os Códigos Civil e de Defesa do Consumidor, o banco possui responsabilidade objetiva pelas condutas praticadas por seus funcionários no exercício do trabalho. Procurado pela reportagem, no entanto, o Santander limitou-se a afirmar, por meio de nota, que “os casos seguem sob análise e acompanhamento, e reforça que possui sistemas para identificar eventuais desvios de conduta”.
Segundo a Polícia Civil, a quadrilha investigada mirava pessoas com bom histórico de crédito. Os dados coletados eram repassados ao líder do grupo, que coordenava a falsificação de documentos e, com a ajuda de estelionatários, realizava a abertura de contas fraudulentas.
Durante coletiva de imprensa realizada em maio último, o delegado Rafael Gomes destacou o grau de sofisticação da organização, que utilizava documentos falsos com selos e assinaturas que passavam pelos sistemas internos das instituições bancárias sem serem detectados.
A fisioterapeuta e empresária de Betim Ana Flávia Couto foi uma das vítimas e perdeu mais de R$ 200 mil após ter seus dados usados indevidamente por um gerente. A descoberta ocorreu em 2024, depois que ela contraiu um empréstimo e aplicou o valor na própria conta bancária. Ao acessar o aplicativo do banco, notou que o dinheiro havia sido subtraído e que o cheque especial tinha sido acionado.
“Parte do valor seria destinado à compra de um imóvel vizinho, com o objetivo de ampliar a casa de idosos que eu administro. Fiquei abalada, pois me senti totalmente lesada ao ver que meu sonho foi interrompido", disse Ana Flávia.
O empresário Alex dos Santos também foi alvo do esquema criminoso e só conseguiu perceber o que tinha acontecido no fim do ano passado, quando identificou movimentações irregulares em sua conta bancária. Ele procurou a agência e relatou o ocorrido ao subgerente. De acordo com o empresário, durante uma reunião, foi informado que o banco já estaria tomando as providências e que o prazo inicial para resolução seria de 60 dias, posteriormente prorrogado para 120 dias.
Sem conseguir resolver a situação, Santos procurou apoio jurídico. Acompanhado pela advogada, ele esteve na agência do Santander no início de junho. O gerente abriu um chamado e alegou que as tratativas correrão por parte de uma área especializada da instituição e não informou uma data para início e conclusão do caso.